Abriu os olhos mas não enxergou direito
era preciso chegar à pia do banheiro e lavá-los
Numa mistura do fora sonho, desejo, subconsciência viu
a silhueta da mulher nua, sobre a cama
os cabelos loiros, as carnes bempostas
Sentira vontade de voltar à cama
entre os passos, perdera o senso da direção para a volta
Pensou no que haveria pro café da manhã
tentou, num exercício vão de memória, lembrar a mesa posta
a última vez em que vira uma
sentiou o lábio estremecer ao gosto de alguma guloseima
imaginou o filho sapeca que ainda não tivera puxando-lhe pela perna
aflito, querendo saber o que haveria pro café
não sabia mais à essa altura se era homem, mulher, alguém
chegara à pia e lavava os olhos
e tudo o que via era que, no fundo
tudo que conseguia ver era apenas uma sombra de sonhos, projetos e desejos impensados
não havia ninguém na cama
era acordar e, seguir em frente
um palavrão pra chocar a concentração literária...
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