quarta-feira, 25 de novembro de 2015

"O começo"

Bom...


Sentirei falta de tatear o papel mas, cri que realmente não conseguirei arquivar meu material de maneira que me satisfaça. Assim, usando o termo de uma pessoa querida que disse que precisamos ser mais modernos, estou aderindo ao formato digital.

Em se tratando de um começo, eu me dispenso de apresentações e vou direto ao assunto.


Um conto...


"Ele"


Acordou e pensou no dia que tinha pela frente. Lembrou da trapalhada deixada no dia anterior, no trabalho; - decerto seria reprendido mas, de qualquer modo, já estava acostumado... Pegou a mesma condução e esperava ver aquela mulher que, vez ou outra, via na troca do ônibus pelo trem. Ela podia não ter lá olhares desejosos mas ele, em sua luxuriosa humildade e ignorância tinha uma mente criativa; romântica e estúpida, porém, criativa. Não a viu e a viagem fez-se mais longa e menos colorida.

Às vezes ele se sentia meio que embriagado ante tanta falta de algo mais, que ele sabia que queria sentir mas, que não sentia. E essa espera o torturava...

Ouvia sons que se confundiam com frases e citações que ele ouvia no trabalho; coisas espalhafatosas, confusas ou ainda terminologias complicadas que ele tentava transpor à sua realidade, sempre à espera de um momento exato para soltar alguma frase que causasse o mesmo espanto que ele sentia; Todos no boteco pobre de periferia olhando pra ele admirados, curiosos, querendo ouví-lo opiniar ou discorrer sobre temas variados. Ele, se exaltando e dando explicações e argumentos irrefutáveis sobre os pontos de vista defendidos. O problema era que "argumento" e "irrefutável" eram termos totalmente desconhecidos no círculo social em que ele estava inserido. Sentia que aquilo não era para ele mas, também sentia-se amuado entre os homens de cabelo bem cortado, de camisas bem passadas e que lhes caíam bem como nunca cairiam à ele, quase sem pescoço, as maçãs do rosto inchadas, o cabelo ruim, o nariz disforme, o papo e a calvície que lhes chegavam antes do tempo. E de pensar que, em guri, amiúde sonhara ser artista de cinema. Acordava dos devaneios que tinha e enxergava novamente o uniforme azul, um rosto subentendido com velha a expressão servil, sentia o estigma da subserviência no próprio sangue. Queria ser outro... ouvia estórias sobre filosofias mas, ouvia também dizerem que eram coisas de maricas. Tinha medo de ser, de sentir, de querer...Lia e não entendia, concordava e não acordava. Não fazia acordos e não abria os olhos. Sentia-se sozinho e talvez fosse. Um, entre milhares, milhões.... perdido e, em busca de um outro ele, que sabia no fundo, que jamais poderia encontrar.
(continua...)

Por que era ela, porque era eu

Não parodiando letra de samba (o que não seria de todo mal)

Mas,
Ela gosta de samba
eu continuo com o bom e velho róquenroul
Ela usa saltos
eu dou meus pulos
Ela pula pra lá e pra cá na minha cabeça
eu acabo tonto nesse vai e vem dela
Ela é maiúscula no meu texto
eu sou minúsculo escrevendo sobre ela

Ela é um fato não consumado
eu me consumo no fator "ela"
Ela pára o meu tempo
e eu sempre o perco a hora por ela

Estamos sempre à um segundo
do que deveríamos fazer primeiro
Mas, por medo ou por terceiros
Acabamos sempre de mãos nos quartos
E, pensando nisso
Tenho vontade de mandar todos pros quintos!

Dizer à ela que "sextodos" (vocês todos) não sabem de nada
ou, "oitava" (oi, eu estava) aqui pensando em você
"nove" (não vi) você por esses dias
dez esperei e comecei à escrever

E eu não sei que isso tudo quer dizer...

O velho e o novo

Saí, andei, pensei, cansei

é chato procurar algo onde se sabe não estar

E mais chato ainda

é saber o lugar certo

e não poder ir até lá


Parei, pensei, cansei e saí

é chato achar algo que não se pode ter

E mais chato ainda

é sair à procura desse

e sair em busco de outra coisa


É difícil ter o que queremos

Pois, dificilmente, sabemos o que queremos

eu só queria saber o que realmente quero

A Moça e o Trem

A cidade era pequena
uma praça, uma igreja, umas casinhas
o sol e o poeirão
podia até ser grande
mas acabavam todos sempre se esbarrando

Havia uma moça, muito formosa
ah! e havia também a linha do trem, que cortava a praça e pequena estação
abandonada

Haviam festas, velórios, desquites, confusões
enfim, recordações
A Moça vivia feliz
todos eram felizes
e o trem sempre passava

Mas, um dia
o trem chegou apressado
"piuí, tic-tac, tic-tac"
e o coração da Moça bateu acelerado

Era o Moço que chegava
chapéu, pasta e um monte de preocupação
que nem viu as janelas
nem via a Moça, a igreja, as beatas
nem via ela

E, como a tarde de sol, o trem seguiu
não partiu, seguiu!
E a Moça, da janela, viu o moço sumir no "piuí"
O Moço, no trem, era todo "tic-tac" - apressado
Mas no fundo, eles sabiam
Que os trilhos nunca erram o caminho
Haviam de se cruzar

Enquanto isso, a cidade, a praça, as beatas e os sotaques
eram nada!
Tudo que havia
tudo que pudesse haver
era só uma questão de
"tic-tac, tic-tac"

"Pra Você"

Os tempos estão mudando (pra melhor)

Uma bela manhã cinzenta
aquela canção pra animar o dia
as pessoas passando pela rua
a infinita companhia que nos faz sós
Aquele riso que escapa aos lábios
vontade de ser feliz
esquecer as tristezas
cantar um lá lá lá bem alto
gritar até cansar os pulmões
pensar nas adversidades
e sentir capaz de ir além
construir e pintar o futuro
dádiva dos corações onde há amor
amar
viver
sorrir
sair na chuva
voltar na chuva
não ver a noite chegar
escrever poesias, versos, palavras tortas assim, assim
e que o amanhã venha logo
Eu estou pronto

Não diga "Olá" Diga "EU TE AMO"

Quando você estiver

Na areia da praia, sob o sol ou chuva
as pessoas passando, as ondas vindo de encontro à areia
Sob a luz colorida, naquela festa que você nem queria ir
aquela preocupação com a hora de ir embora
Na sala de aula, no primeiro dia de aula
ou no último, fazendo a prova mais importante
No trânsito, xingando algum lugar
ou chegando à algum lugar
No trabalho, trabalhando (naturalmente)
ou, naturalmente, não trabalhando

E, a oportunidade surgir
olhos nos olhos
o lábio hesitante
o piscar repiscante

Não diga "Olá"
Diga "Eu te amo"

Ela pode só te dar uma chance
Ele pode nem esperar aquilo mas, decerto, entenderá

a vida é curta e o amor é mais importante

Deixem pra se cumprimentarem pelo restos de suas vidas

Acredite no amor à primeira vista, à segunda, à penúltima!

.... e por isso fazia seu grão de poesia e achava bonita a palavra escrita....

TRAVESSIA
Composição: Milton Nascimento / Fernando Brant

Quando você foi embora
fez-se noite em meu viver
Forte eu sou mas não tem jeito,
hoje eu tenho que chorar
Minha casa não é minha, e
nem é meu este lugar
Estou só e não resisto,
muito tenho prá falar

Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedras,
como posso sonhar?
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto,
vou querer me matar

Vou seguindo pela vida, me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte, tenho muito que viver
Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver

Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedras, como posso sonhar
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar

Eu não vou falar mais nada

de agora em diante, eu só escrevo...

O espelho da pia

Abriu os olhos mas não enxergou direito
era preciso chegar à pia do banheiro e lavá-los
Numa mistura do fora sonho, desejo, subconsciência viu
a silhueta da mulher nua, sobre a cama
os cabelos loiros, as carnes bempostas
Sentira vontade de voltar à cama
entre os passos, perdera o senso da direção para a volta

Pensou no que haveria pro café da manhã
tentou, num exercício vão de memória, lembrar a mesa posta
a última vez em que vira uma
sentiou o lábio estremecer ao gosto de alguma guloseima
imaginou o filho sapeca que ainda não tivera puxando-lhe pela perna
aflito, querendo saber o que haveria pro café

não sabia mais à essa altura se era homem, mulher, alguém
chegara à pia e lavava os olhos
e tudo o que via era que, no fundo
tudo que conseguia ver era apenas uma sombra de sonhos, projetos e desejos impensados
não havia ninguém na cama
era acordar e, seguir em frente

um palavrão pra chocar a concentração literária...

Promessa à mulher amada

Eu lhe prometo (Soneto)

Ser atento aos seus detalhes de agora em diante
ser eterno em meus beijos entre os teus, escaldantes
ser amigo, leal e parceiro sempre
Lhe amar o amor carnal, espiritual, pleno, radiante

Ter calor, torpor, prazer ardente
congelar, queimar, voar, sonhar como um principiante
ser teu príncipe, castelo, reinado, ente
fortaleza, refúgio, secreto amante

Tecer versos, rezar credos, maldizer os passantes
ser tua morada, passeio, recreio, peito amigo
querer teu colo, teu cheiro, teu gosto constante

Te dar os céus, dar-te às estrelas, cantar sonetos
Ver nossos netos, amar à vida como um passante
quebrar a poética ao imaginar não lhe ter comigo
ser outro eu, pra outra você, como nenhum outro
nunca d´antes

Sonho

Estava escuro quando acordara
a noite era azul como seria perfeita se sempre o fosse
ouvia sons que pareciam vir das estrelas
afinados por algum astro bom de ouvido pois casavam simetricamente com os movimentos as estrelinhas que pareciam lhe convidar à janela

Abriu a janela e sentiu o ar frio da noite

O Amor e a Vida

Passeavam à beira dum lago
O Amor, de calça xadrez
A Vida, de vestido de bolinha
Descompromissados...

Saudaram o tempo mas,
ele fez que nem viu
A Vida comentou dos cabelos do Amor
e maldisse o Tempo pelo o que lhe havia feito

O Amor, esperto
mostrou o girassol da cor dos cabelos da Vida
Tentou um gracejo
E ela sorriu e, desfez-se

Chegaram à conclusão que aquele passeio tinha de dar em algo
Ter algum sentido
A Vida, complexa, sistemática e imprevisível
O Amor, romântico, piegas e desajeitado

Enfim, estavam juntos
A Vida, cantando "lálálás"
O Amor, atirando pedras no lago

Simples e inexplicáveis
Como essa poesia

Cidade Grande

"Sonhando com uma cinderela
que o espere todo o fim de tarde
com jeito de mulher segura
e um prato de comida fresca"

Eu sou tudo que fora até aqui mas, de agora em diante, ao inverso.

Léxico
Louco
Criativo
Inconstante

Amor
Arte
Vida

A morte!?
Não tenho tempo pra pensar nisso...
Fui!

Sobre os dias atuais

Faz chuva e faz sol
Fizeram-os antes...
Façam!
Não faço mais versos
Agora verso tudo
Só canto as minhas canções
Amo um milhão de vezes mais tudo o que já amava
O resto nem sei mais...
O caminho é longo? Quem disse!? Quem sabe...?
Vou até aonde meu coração me levar
E, se ainda assim, tudo der errado
Até chorarei, não nego
Mas sorrisei leve e sem vergonha
Pela simples certeza de estar vivo
O mundo está de cabeça pra baixo? Desafio!
O mundo é redondo e não o há cabeça pra baixo
A minha está nas nuvens? Prove

A minha poesia

É uma cantora fracassada morando num apartamento em Paris
Um velho marinheiro que amou mais o mar do que o amor
Um jornalista que sequer é jornalista
Uma criança que acordou de madrugada com uma arma em suas mãos

É quadrinhas de versos descadenciadas
Várias coisas ao passo que são nada
Discordância ante tanta irrelevância
Ignorância diante de tanta mediocridade

É o vestido de festa da moça do interior
sujo de barro sujado pelo sexo no mato
A mata fechada assustando o cabloco tolo
Trem de ferro cortando a mata desgovernado

O político sínico e cênico ao extremo
Simulando moral plena e sinceridade
Notório religioso, íntegro, na lei de Deus
Em débito irrevogável junto ao Diabo

Países, povos, líguas diferentes e estranjas
Ninfas, Deusas, belas em plenitude nuas
Cantantes de cânticos que desconhecemos
Entre anjos desafinados em alaúdes

Enfim, são braços, lábios, pernas, cheiros
Urros, berros, socos, saúde, traços
Fogo, água, passado e presente em rabiscos
Morte, Vida e prosa
Rima Branca pra uma vida de verdade

Tiago Belizario

Elétrico Eclético Blues

Anything Blues
(Humanotons)

Cuidado Garato, ao voar olhe pro chão
as ruas, lá do alto, passam outra sensação
Entre madames travestidas e senhores elegantes
tão iguais e indiferentes, como livros de uma estante
cuidado ao pousar, o chão está lá
mas você tem que ir confiante

Você não sabe mais o que é inferno ou que é o céu
entre o carro, a roupa nova e o recibo do aluguel
naquela noite, aquele bar, você olhou, ela sorriu
alguém cantou uma canção, falou de amor, ela partiu
mas, pense bem, não é pior
você está só e pra voar há o horizonte

Então vá ver cidades
vá de trem à Dargelin
saudades por cidades, passe também por Pequim
Cruze montanhas, cruze muros
cruze muralhas e mares
Faça amigos, tire fotos, passe em todos os lugares
e, na bagagem, um sorriso, um olhar
e a sua própria identidade

E no domigo, na Igreja, não se preocupe com o céu
a salvação está pra alma como a pena pro papel
Essa cidade é um cinema, todo mundo é personagem
mudam a cena, o som, o ato, o contra-regra e a maquiagem
e se o roteiro é o problema
volte ao palco e faça valer à pena

e se o roteiro é o problema
volte ao palco e faça valer à pena

e se o roteiro é o problema
volte ao palco e faça valer à pena

Conto corrido...

Querera ou Quisera.
Sentia-se péssimo pois, começara em dúvida
Ou,
Começava?

(...)

Sentira a presença de uma Ilha, com maiúscula mesmo
uma terra estranha, fadada a fins e fronteiras
que ele sequer conhecia
mas, pressupunha

Tentara ser outros, criar outros
e, no final
todos vertiram para ela mesma
confuso e confusa, sexualmente falando...

Tinham muita informação e pouco tempo para o raciocínio lógico
uma avalanche de afazeres, anseios, desejos, receios alheios

um instante
um piscar
queriam gritar até sentirem-se ao avesso
avessos à tudo como a si próprios
ácidos e pessimistas
apaixonados e disléxicos

a lírica não escolhe forma
a tempestade passara

já sentia-se melhor, afinal

Quisera (agora sim) começar de novo
Tinham-se e
às palavras
Pena, tinta
pena, amor
Pena, papel
pena, inspiração

Não preciso de nada além do que já tenho pois
o que, por desventura ou ventura faltar
Crie-mos-los quando a

A noite, da janela do meu quarto

Ela dá pr´uma rua cinza
árvores verdes mas, cinzas
cachorros barulhentos...e, cinzas
pessoas que passam , cinzas

Anoitece e tudo continua cinza
aí vem a Lua e toma um cado da janela do meu quarto
e tudo ficar cor-de-lua
Fico feliz

Penso, comovido, em criar algo belo
como a luz vermelha do carro que vai sumindo
e movendo um sinal vermelho, embaçado pelos meus suspiros
à noite, na janela do meu quarto

Eu olho pra dentro e, vejo tudo aquilo que eu sou
retratos, recortes, textos, sons, cheiros
roupas, disfarces, trapos
noite; da janela do meu quarto

E, lembro Natáis, tristezas, saudades, vitórias
derrotas, perdas, fracassos
e percebo que é noite
da janela do meu quarto

E, percebo que a janela vai estar sempre ali
pra ver tudo passar, e eu estiver lá
e passando tudo à passado, enquanto eu estiver aqui
E apagarei as luzes das minhas rememorações
na esperança de, com a luz da lua
e o reflexo destes versos tímidos, nessas folhas brancas
ver o teu rosto refletido junto ao meu
únicos e só juntos, sós
nas noites, da janela do meu quarto
pelo resto de nossos dias

Sobre as fitas nos cabelos de Maria...

Lá vai Maria
Andando pela rua de mão dada ao pai
trancinhas balançando pra lá e pra cá
e fitas ao vento
eternamente livres enquanto presas à Maria

Às vezes, Maria se ira e espera algo
como se iria do céu ao chão
qualquer pena ou pluma
dentre os zilhões de quilômetros da superfície da Terra
atingir-lhes os cabelos e fazê-la sentir-se especial
grande como a Grande Muralha ou
grande como palavra começada com letra grande

Há horas em que ela se cansa
e se sente como o pacato cidadão comum, desses de perfil traçado
camisa bem passada e expressão regular
e ela se sente por dentro dos sapatos dos outros
E ela diz pra si mesma que isso são assuntos de mulher e, por hora
ela é apenas menina

E, indiferente e preocupada com as coisas da vida
aqui de fora, nos resta apenas acompanhar o balançado das fitas dos seus cabelos
Entre vestidinhos, bonecas, trejeitos
Lá vai Maria
A mão à qualquer um que quiser lhe acompanhar
Pois, de guias ela não precisa
Amar, iria até ela amar...iria
quem sabe, um dia...
Pro sim e pro não
Eu gosto apenas de olhá-la
De esmerar o meu convívio com ela
De poesiar o seu simples caminhar
As vezes eu sinto ela
E, aqui de longe sinto até um pouco
que ela, sou eu.

E hajam neologismos pra Rosear-te o suficiente.


A hora de abrir o baú

De repente, saltaram palhaços e malabaristas que vestiam estranham peças com recortes medievais ao passo que encenavam um ato ininterpretável como a palavra ininterpretável.
O picadeiro era triangular de modo que era impossível não tropeçarem uns nos outros mas, posto que era um sonho, tudo era possível. Logo após o término do canto inicial, uma banda composta velhos maltrapilhos e aleijados com estranhos e enigmáticos rostos juvenis, desses que tem seus poucos anos e muitos sonhos no olhar, tocavam estranhos instrumentos musicais de sopro que mais se pareciam com armas de fogo e produziam um estranho efeito visual já muitos sopravam pelos seus ouvidos sugerindo uma cena suicida, uma espécie de Menestrel trajando uma estranha capa e mais estranhas vestes que os demais veio ao centro do triângulo com os lábios costurados e gritou em alto e bom som que era hora de começar o espetáculo.
Em seguida, um avião de guerra do início do século rompeu a lona transparente que cobria o picadeiro com seu ruído zumbido estridente e explodiu à todos. Parecia ecoar uma tranquila canção de ninar no estranho espaço e uma névoa branca meio que azulada pairou por sobre o chão dissonante com o ar.

Continua...

Primeiro Ato - Mrs Mole, a Cega

e a névoa baixou...

Ela estava sentada num dos vértices do triângulo... o mais triste deles.
Havia nela algo que fazia isso; invadir uma tristeza calma, gélida, irritantemente muda e penetrante que congelada tudo e dava o tom calmo e frio que sua imagem exalava. Mrs Mole era Cega.
Sentada com seu vestido branco que parecia ter sido violentado, aos trapos porém limpo como que para um casamento, ela parecia uma noiva que fora abandonada ao altar e esperou silenciosamente por aproximadamente 476 anos por alguém que não chegou

A Cega...

A névoa se dissipava ainda enquanto no vértice mais distante donde se observava o estranho espetáculo se podia notar uma forma justaposta ao fim do triângulo.
Chamava-se Mole, como poderá saber adiante, e constará ainda que era cantora, todavia, como miserável característica dessa nossa condição era tratada por "a Cega".
Os ouvidos ainda não ignoravam o estrondo de pouco antes quando sublimes sons eram enviados pelo ar por Mrs Mole.
Era um tipo de música diferente pois notava-se que nem todos os que haviam presentes a captavam da mesma forma. Era como se a canção tomasse uma forma antes de chegar à cada um... como se Mrs Mole soubesse como chegar à essência de cada coração com sua música.

Era, dentre o que podia assimilar pela silhueta, uma bela mulher; sentada empunhando um violão ou alaúde ou algo parecido, estava descalça e seus pés denotavam uma pele branca com a rigidez que lhe subjulgavam menos de 30 anos, em idade normal.
Difícil era precisar algo sobre aquela criatura pois o seu surrado vestido branco, embora todo desfigurado, insinuava que ela estivera presente à um casamento e que, por dedução intuitiva, fora uma bela noiva que ficou à esperar por alguém que não chegou. Essa espera pode ter levado até quatrocentos anos.

Tal imprecisão nesse lapso de tempo deve-se ao fato da impassividade na presença de Mrs Mole. Acima dos pés que trazia onde via-se o velho vestido, havia por detrás do instrumento, um colo juvenil que guardara prazeres e pecados ou ainda a porta da verdadeira perdição de algum malaventurado.
Tinha ao busto um descompasso no vestido que simulava um decote e recobria-se misteriosamente, dentre uma espécie de véu que fixava-se como que eternamente imóvel sobre um colar assemalhado à um escapulário, onde talvez algum sábio Rei houvesse impresso seus pecados e pedidos numa espécie de relicário e confiado à essa trovadora a guarda de sua perdição tal qual a redenção, como assim cabe aos que tem fé.

Seus braços e pescoço completavam o belo conjunto descrito contraponteados por belos e cacheados cabelos pretos, semi curtos, no iminência entre o curto e o comprido.
O rosto era angelical como que esculpido por algum Grego em homenagem à Vênus ou Afrodite, com uma precisão nos traços contrastantes com a mais inquietante e latente característica dessa mulher.
Mrs Mole tinha os olhos de um azul leitoso como que da cor dos portões do Éden; como que embebidos em nuves e petrificados como diamantes. De um brilho mórbido e melancólico; com uma aterrorizante vivacidade morta.

Junto aos seus lábios hipnóticos, ela seguia cantando e abrindo e fechando os olhos num desespero que parecia indicar que tentava ver algo à sua frente, como se tal o pudesse, como o óbvil mais rudimentar lhe quisesse saltar as órbitas adentro e algum Deus mitológico os barrasse com um arpão sobre as pupilas dessa ninfa.

Continua...

Informe de utilidade pública

*** Se você não gosta de ler, não perca o seu tempo ***

Queridos,

Retomo o conto em breve... estou ruminando um desfecho

Ia escrever algo bacana mas a internet demorou tanto que passou a inspiração...Retomarei pelo papel e transcrevo aqui

Por ora, recomendo minhas atividades musicais

http://humanotons.wordpress.com/

http://www.myspace.com/humanotons

*** Obrigado pela sua gentil leitura ***

Ataulfo e Regiane

*** se você não gosta de ler, não perca o seu tempo ***


Ataulfo não pega o metrô pois não guarda dinheiro trocado
Regiane pinta as unhas e se arrepende depois que pinta
Ele no trabalho borda arame farpado
Ela no trabalho pinta retratos rasgados

Ele usa uma camisa anacrônica
Ela é moderna como uma velha de 90 anos
Os dois se amam
E fizeram um financiamento!
De uma câmera de vídeo chinfrim, numa loja popular

E já tem bons momentos guardados
Ataulfo sempre reclama das prestações
Regiane diz que pensa no futuro mas sempre se esquece

Entre sorrisos, olhares, poemas e telefonemas
Sapatos, viagens, sábados
Cinemas chatos, e espera na calçada madrugada adentro
As madrugadas deixaram de ser problemas
Desde que Regiane descobriu que será mamãe
Do pequenino Sebastião Neto
Ou da Maria da Graça da Paz
De quem Naturalmente o jovem futuro Senhor Ataulfo será Pai

E os três, uma família, de mão dadas
Vão e caminham despercebidos na multidão
Descobriram a maior das riquezas
que se revela ao anonimato
Maior do que qualquer tesouro ou falso brilhante e sim reles artefato
Eles vivem o amor
E eu escrevo a poesia
de fato.

*** obrigado pela sua gentil leitura ***

(*) Nota do Autor
Regiane e Ataulfo existem e, posso jurar até, embora ainda não os conheça. Se você tem um pouco deles dentro do seu coração, divulgue o texto. Ajude o poeta e compor o próximo!

(*) Música do Autor
Escrito ao som de "Brand New Start - Little Joy" Ouça! Você vai se sentir bem!
Saudações!!!!

Coisas sobre Lúcia Helena

Ela abre os olhos e sente que é preciso viver mais um dia
Pensa que a vida pode lhe reservar alguma surpresa alegre
sorri sozinha
e lembra que faz isso desde menina

sem a pontuação escreve os versos abaixo

Meus olhos são o que vejo de mais belo em mim
fico chateada pois ninguém nunca viu isso
ao menos, ninguém nunca me falou

ao voltar do banho, ela olha suas roupas e pensa

Como e qual posso usar? Me sinto quase desinteressada por essas coisas
Mas, afinal, há o exercício de ser mulher

Ela esmiuça e combina a roupa como sempre faz sistematicamente
embora, de forma despercebida

Ao andar pela rua, ela olha olhares que olham pra ela
e que ela tenta entender outras significações
segue pensativa assim
Até que algo urgente e importante acontece e ela vê

Um homem na rua, ao acaso, quebrando uma flor
Ele estava trabalhando, ou andando à toa, ou à espera de algum agente secreto pra passar uma importante mensagem adiante
Mas, ali
defronte aquele jardim acidental, parada de ônibus
seu espírito de guri o fez arrancar a flor antes de pensar
E Lúcia Helena sentiu a dor que lhe ardeu e abriu todas as entranhas ao vê-lo arrancar aquela pequenina flor de cor clara
com algum nome polissílado pra lá de mais de dez sílabas

E, a surpresa e acaso os uniu nesse momento
seus olhos se encontraram até
a roupa, a terra na mão, o espírito guri, o hábito de escrever versos da menina

Ele entregou à flor ela
entregou à ela à flor
Ambos entenderam o significado do amor.
de ser assim.
Miúdo e infinito como cada uma das milhões de coisas
que acontecem por detrás de nossos olhares

Os olhos só terminam o que o coração determina.

Os pés das moças no baile

Ao som de uma canção daquelas de "mexer o esqueleto",

Sempre Jovem

Ouvi uma bela canção que dizia que, pode acontecer muita coisa
coisas boas
ruins
acertos
erros
dúvidas
certezas
decepções
e, no meio de tudo isso
o tempo vai passar
mas por mais penoso o quanto possa parecer
isso será bom
eu passarei por tudo isso
e, se tiver o coração tranquilo
serei sempre jovem
Espero compor um belo poema ou canção sobre isso
Por quê?
Porque, seja o que tiver de ser
isso me fará
Sempre Jovem

A alma e o Blues

Quando tudo descarrilhou
Eu gritava como uma gaita
E quando eu rolei pela ribanceira
A minha alma foi ao inferno
E ninguém me propôs um "trato"
Então
Um blues tocou alto
e rasgou minha alma em dois
O que eu era antes ficou pelo caminho
E agora estou de volta aos trilhos


E A E A
E7/9+

Quando se fecha um ciclo...

Creio em muito pouca coisa mas, ainda assim, desconfio muito do pouco em que creio.

Como a arma que dispara e dá início à corrida, salta o atleta desesperado e extasiado, todo ele atenção, entrega, esforço e concentração para cruzar a linha de chegada.
O mundo simplesmente inexiste em toda a sua complexidade, filosofia e quinquilharias cotiadas durante esse percurso.
Ele cruza a linha e, nesse momento, vale é a colocação ou o recorde. Todo o resto, segue adiante - ficou pra trás, inexistido.
Meu texto é um retrato daquilo que eu sou, ou quero que pensem que sou quando o imprimo. Ele hoje é mais denso, é revisto, a responsabilidade me é maior mas, ainda assim, creio ser uma forma de liberdade que conquisto.
O arrenego, a negação, o repúdio ou o ódio não fazem parte de mim, simplesmente porque ignorar o que eu fora outrora é ignorar o caminho que me trouxe até onde estou agora.

E,agora, estou exatamente aonde sempre quis estar.
Lugar ou hora? Que importa!?
Estou de frente pro meu destino e ele virá.

Boa passagem de ano, de vida, de morte, de tudo, à todos.
Principalmente e mais importante; boa chegada aonde o quiserem!

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