quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Coisas sobre Lúcia Helena

Ela abre os olhos e sente que é preciso viver mais um dia
Pensa que a vida pode lhe reservar alguma surpresa alegre
sorri sozinha
e lembra que faz isso desde menina

sem a pontuação escreve os versos abaixo

Meus olhos são o que vejo de mais belo em mim
fico chateada pois ninguém nunca viu isso
ao menos, ninguém nunca me falou

ao voltar do banho, ela olha suas roupas e pensa

Como e qual posso usar? Me sinto quase desinteressada por essas coisas
Mas, afinal, há o exercício de ser mulher

Ela esmiuça e combina a roupa como sempre faz sistematicamente
embora, de forma despercebida

Ao andar pela rua, ela olha olhares que olham pra ela
e que ela tenta entender outras significações
segue pensativa assim
Até que algo urgente e importante acontece e ela vê

Um homem na rua, ao acaso, quebrando uma flor
Ele estava trabalhando, ou andando à toa, ou à espera de algum agente secreto pra passar uma importante mensagem adiante
Mas, ali
defronte aquele jardim acidental, parada de ônibus
seu espírito de guri o fez arrancar a flor antes de pensar
E Lúcia Helena sentiu a dor que lhe ardeu e abriu todas as entranhas ao vê-lo arrancar aquela pequenina flor de cor clara
com algum nome polissílado pra lá de mais de dez sílabas

E, a surpresa e acaso os uniu nesse momento
seus olhos se encontraram até
a roupa, a terra na mão, o espírito guri, o hábito de escrever versos da menina

Ele entregou à flor ela
entregou à ela à flor
Ambos entenderam o significado do amor.
de ser assim.
Miúdo e infinito como cada uma das milhões de coisas
que acontecem por detrás de nossos olhares

Os olhos só terminam o que o coração determina.

3 comentários:

Sacudidora de Palavras disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sacudidora de Palavras disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Unknown disse...

Que lindo sansas!
Abraços

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