Ela abre os olhos e sente que é preciso viver mais um dia
Pensa que a vida pode lhe reservar alguma surpresa alegre
sorri sozinha
e lembra que faz isso desde menina
sem a pontuação escreve os versos abaixo
Meus olhos são o que vejo de mais belo em mim
fico chateada pois ninguém nunca viu isso
ao menos, ninguém nunca me falou
ao voltar do banho, ela olha suas roupas e pensa
Como e qual posso usar? Me sinto quase desinteressada por essas coisas
Mas, afinal, há o exercício de ser mulher
Ela esmiuça e combina a roupa como sempre faz sistematicamente
embora, de forma despercebida
Ao andar pela rua, ela olha olhares que olham pra ela
e que ela tenta entender outras significações
segue pensativa assim
Até que algo urgente e importante acontece e ela vê
Um homem na rua, ao acaso, quebrando uma flor
Ele estava trabalhando, ou andando à toa, ou à espera de algum agente secreto pra passar uma importante mensagem adiante
Mas, ali
defronte aquele jardim acidental, parada de ônibus
seu espírito de guri o fez arrancar a flor antes de pensar
E Lúcia Helena sentiu a dor que lhe ardeu e abriu todas as entranhas ao vê-lo arrancar aquela pequenina flor de cor clara
com algum nome polissílado pra lá de mais de dez sílabas
E, a surpresa e acaso os uniu nesse momento
seus olhos se encontraram até
a roupa, a terra na mão, o espírito guri, o hábito de escrever versos da menina
Ele entregou à flor ela
entregou à ela à flor
Ambos entenderam o significado do amor.
de ser assim.
Miúdo e infinito como cada uma das milhões de coisas
que acontecem por detrás de nossos olhares
Os olhos só terminam o que o coração determina.
3 comentários:
Que lindo sansas!
Abraços
Postar um comentário